segunda-feira, 29 de outubro de 2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A tradução, numa alegoria


Se eu tiver um jarro de limonada e o sabor da limonada não for passível de ser reconhecido pelas papilas gustativas de quem a vai beber, eu não vou colar um rótulo na limonada a descrever a que é que ela sabe para quem tem a capacidade de sentir o seu paladar. Prefiro transformar a limonada em sumo de laranja.

Preserva-se a acidez; mantém-se a natureza cítrica do fruto.


domingo, 21 de outubro de 2012

Relevância


Um poema é relevância. Nenhum verso é obra do acaso. Num poema, nada está a mais nem a menos. As medidas são precisas como uma fórmula química; uma molécula de oxigénio a mais e passamos de água a água oxigenada. Artifícios a mais num pretenso poema oxidam o texto, e um poema não é artifício, mas arte.

In «Da Poesia», ensaio publicado na revista LER em Junho de 2012

sábado, 6 de outubro de 2012

And now, for something completely different, uma anedota

Um dia comprei amendoins e depois de os descascar e comer concluí que eram todos bons.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Glotofagia

As línguas têm paladar. Degustam-se como o melhor vinho ou a mais áspera zurrapa.
O inglês, por exemplo (e caindo irremediavelmente num cliché) tem o sabor das 5 o'clock, do chá com biscoitos. Mastiga-se com comedimento e politeness. O inglês americano é, pelo contrário, fácil, rápido, devora-se como comida de plástico, a mordidelas frenéticas e impacientes.
O francês é escorregadio como um caracol e deixa-nos um sabor amanteigado que demora.
O russo, esse, é a língua do amor, do amor até ao enjoo. Falar russo é como comer gomas gordurentas e esponjosas num parque de diversões, abraçados a um peluche cor-de-rosa.
Já o romeno é vinho. Vinho quente com especiarias abençoadas. É a língua de Deus.
O turco, por sua vez, é a língua do inimigo - düşman - e o fruto proibido. Ouvir falar turco é um doce-amargo, é deleite e desagrado, atraente e repelente gustativo.
O português sabe a tijolo, e a pedra, e a mar, e à erva do campo. Sabe às coisas que tocamos, pequenas e gigantes, sabe a nós.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dos amores para sempre


Daqueles amores que nos agarram e dos quais não nos podemos libertar. Daqueles amores para quem olhamos e nos vemos – o outro lado do espelho. Daqueles amores cujo olhar sardónico cruzamos, num gesto que só nós entendemos, dois na multidão. Daqueles amores que se cravam em nós e que podem durar só um segundo, mas que são cruz de Cronos até ao fim dos dias.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Separar as águas


Já fui contra o novo acordo ortográfico, é um facto. Defendi diferenças evolutivas entre o português do Brasil e o português Europeu, juntei-me a todas as vozes discordantes que bramiam em desfavor daquela que é, feitas bem as contas, uma convenção.
Sem olharmos a politiquices ou a sentimentos patriotas, e servindo-nos apenas da lógica, a escrita não é mais do que um código. A língua, essa mantém-se, encerrando nela toda a cultura do país.
Não posso dizer que a ideia de mudar a forma como escrevi durante dezassete anos (mais coisa, menos coisa) me agrade. Mas também sei que são razões afectivas as que me levam a oferecer resistência a esta nova convenção. E eu sempre fui de separar as águas.

Aqui a barraquinha reabriu

Reabri o blogue, não sem antes fazer uma limpeza geral para começar do zero. Desta feita, espera-se mais investimento e dedicação, rigor e disciplina. Mas não, não me converti ao nacional-socialismo, tirando no que diz respeito à gramática portuguesa (continuo a ser uma «grammar nazi» inveterada): http://www.facebook.com/HEIL.TGNL?fref=ts)

Desejem-me sorte e paciência.